Sob o signo da contingência sanitária que já se anuncia perto do fim e com a esperança no progressivo desconfinamento, o Dia Internacional dos Museus celebra, na sua edição de 2020, com particular agudeza, a importância da comunicação digital entre instituições e públicos, amadores, estudiosos e especialistas da área da museologia e do património.
Sendo uma instituição militar, científica e de cultura com importantes coleções científicas, técnicas, cartográficas e artísticas, o Instituto Hidrográfico (IH) desenvolveu uma aplicação de «Museu Virtual» que em 2020 se tornará publicamente partilhada, a tempo de se juntar às Comemorações dos 60 anos do Instituto que igualmente se celebram em 2020.
Dispondo de polos museológicos parcialmente visitáveis com foco no domínio das Ciências do Mar, da Hidrografia, da Oceanografia, da Navegação, da Geologia e Química e Poluição do Meio Marinho, o IH não quis deixar de se associar à efeméride do Dia Internacional dos Museus, reapresentando o emblemático «Plano Hydrographico da barra do porto de Lisboa», um dos mais belos exemplares da cartografia náutica portuguesa oitocentista que se conserva nos Fundos de Cartografia histórica do Instituto.
A construção deste magnífico «Plano», à escala 1:20000, iniciou-se com as sondagens e os levantamentos realizados na barra do Tejo, entre 1842 e 1845, na sequência de uma Ordem régia passada pela Rainha D. Maria II, aos então tenentes da Armada, Caetano Maria Batalha (1810-1881) e Francisco Maria Pereira da Silva (1813-1891), um e outro, engenheiros hidrógrafos adstritos ao serviço da Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, então dirigida pelo Conselheiro Filipe Folque. Juntou-se a esta equipa o tenente Carlos Botelho de Vasconcelos (1817-1896).
Com uma composição gráfica esmerada, de cabeçalho centralizado e lettering eclético, de gosto vitoriano, panoramas finamente gravados, este plano beneficiou do moderno método das triangulações apresentando-se com uma correção e uma nitidez ao tempo admiráveis.
A sua publicação, porém, sofrendo os reveses da Guerra Civil, dos conflitos políticos e da penúria económica, só veio a concretizar-se na década seguinte, em 1857. Gravado em água-forte pelo mestre litógrafo e pintor polaco Jan N. Lewicki (Osiek, 1798 – Paris, 1871), por ocasião da sua estadia em Portugal, entre 1853 e 1860, «presente a El-Rei» D. Pedro V, o mapa da Barra do Porto de Lisboa foi, pela sua «perfeição e sciencia» distinguido com a «approvação e (…) Louvor de sua Majestade», publicamente declarado em Diário do Governo de 14 de abril de 1858.
Como para se reparar da demora na sua primeira edição, teve o «Plano Hydrographico da barra do porto de Lisboa» de 1857, assinalável longevidade e sucessivas reedições, destacando-se as de 1879 e de 1893, de que o IH igualmente conserva exemplares, preservando a matriz original da edição de 1879 numa bela pedra litográfica de calcário amarelo numerada. Um regalo para amadores de Cartografia.