Pedro Coelho celebra este ano 18 anos como mestre relojoeiro no Instituto Hidrográfico (IH).
Quando questionado sobre o motivo que o levou a escolher esta profissão, Pedro costuma dizer que é relojoeiro por sorte, pois jamais em tempo algum pensava em sê-lo. “Foi uma questão de estar no lugar certo, à hora certa”, refere.
Nascido “no coração” de Portugal, mais precisamente em Carrasqueira, uma aldeia do concelho de Góis, no distrito de Coimbra, Pedro mudou-se para Lisboa com a família quando tinha 6 anos de idade. Inicialmente, viveram junto ao Castelo de São Jorge, e mais tarde estabeleceram-se no Alto do Moinho, na margem sul do Tejo.
Entre 1996 e 2007, Pedro esteve no Arsenal do Alfeite, na Base Naval de Lisboa, onde estudou e se especializou em mecânica, ficando depois a trabalhar na Oficina de Motores. Apesar de não ser militar, considera ter adquirido uma "costela militar" devido aos muitos anos de convivência com militares dentro da base. Durante esse período, teve a oportunidade de embarcar em fragatas como a Vasco da Gama, Corte Real e Álvares Cabral, consideradas, na época, "as estrelas" da Marinha.
A sua história com o Instituto Hidrográfico começou em 2007, quando se candidatou a uma vaga de serralheiro e passou a trabalhar na Base Hidrográfica da Azinheira, no Seixal. Cerca de dois anos depois, foi abordado pelo Comandante Santos Fernandes, então Diretor de Apoio do IH, que já conhecia Pedro do tempo em que era Chefe de Divisão no Arsenal do Alfeite. Juntamente com o Tenente Gil Galrinho, chefe do Serviço de Infraestruturas e Transportes na época, o Comandante propôs que Pedro frequentasse o Curso Técnico de Relojoaria. A proposta surgiu porque o relojoeiro do IH estava prestes a reformar-se, e era necessário encontrar um sucessor.
Pedro, que nem se quer usava um relógio no pulso, aceitou o desafio. Aos 31 anos, começou a frequentar o curso na Casa Pia de Lisboa, instituição com a qual o Instituto Hidrográfico já mantinha um protocolo. Adaptar-se à vida de estudante foi um desafio, especialmente porque Pedro tinha quase o dobro da idade da maioria dos colegas. Mesmo assim, destacou-se ao ser o melhor aluno da turma durante os três anos do curso e foi ainda distinguido como o melhor aluno da escola em dois desses anos. Ele considera essa experiência uma das mais transformadoras da sua vida. Até hoje, é reconhecido na Casa Pia como "o aluno mais velho da escola".
Em 2012, após concluir o curso, Pedro assumiu o cargo de relojoeiro na Oficina de Instrumentos de Precisão do Instituto Hidrográfico. No ano seguinte, foi convidado para ser formador do curso na Casa Pia, função que conciliou com as suas responsabilidades no IH. Em 2016, também a convite da instituição onde estudou, o mestre relojoeiro passou a fazer parte do grupo de jurados do Campeonato Nacional das Profissões WorldSkills Portugal, que se realiza de dois em dois anos. Desde 2017, também atua como jurado nas Provas de Aptidão Profissional (PAP) do Curso Técnico de Relojoaria na Casa Pia.
Ao longo desses 18 anos, Pedro Coelho tem sido o único relojoeiro de toda a Marinha Portuguesa. Ele é responsável pela manutenção e reparação de todos os tipos de relógios ou instrumentos com mecanismos de relojoaria, como cronómetros de Marinha, contadores de segundos, barógrafos, termógrafos, entre outros. Quando necessário, desloca-se a diferentes locais para realizar intervenções técnicas.
Pedro é o responsável por reparar os relógios que se encontram nos gabinetes de Almirantes, incluindo os dos gabinetes do Almirante CEMA, do Vice-CEMA e do adjunto do CEMA. O mestre relojoeiro sente-se um sortudo por poder reparar estes relógios, especialmente porque alguns são peças históricas, datadas dos séculos XVIII e XIX.
Além de atender a Marinha, o relojoeiro também realiza intervenções para outras entidades que solicitam os serviços da Oficina de Instrumentos de Precisão do IH.