Uma equipa de 11 investigadores e alunos do Instituto Hidrográfico (IH, Portugal), do Instituto de Engenharias e Ciências do Mar - Universidade Técnica do Atlântico (ISECMAR UTA, Cabo Verde) e do Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel (GEOMAR, Alemanha) iniciou no dia 30 de outubro um programa de observações multidisciplinares sobre as águas do Arquipélago de Cabo Verde. O programa de observações decorrerá até 15 de novembro a bordo da NRP D. Carlos I, uma embarcação hidrográfica da Marinha Portuguesa, e está integrada na missão de cooperação mais vasta “Iniciativa Mar Aberto” (“Open Sea Initiative”). O trabalho será desenvolvido em estreita colaboração com o Instituto do Mar (IMAR) de Cabo Verde.
Do ponto de vista científico, este cruzeiro de investigação pretende recolher um conjunto abrangente de dados físicos, biogeoquímicos e biológicos na área global do Arquipélago de Cabo Verde, que possam contribuir para melhor compreender como a circulação em grande escala nesta área força a complexa dinâmica em torno e entre as ilhas do arquipélago. Será dado um enfoque particular à caracterização das influências do continente africano sobre a área de estudo (promovidas, por exemplo, por grandes filamentos de afloramento) e os processos que afetam áreas marcadas por topografia extrema, como o Banco de Submarinos João Valente (uma área ainda pouco conhecida) e o Senghor Seamount.
Durante os 15 dias de missão no mar o NRP D. Carlos I vai passar ao largo de cada uma das dez ilhas de Cabo Verde realizando medições de variáveis físicas, químicas e biológicas na coluna de água desde a superfície até profundidades de 1500 metros. Sondas multiparamétricas equipadas com sistemas de amostragem de água serão usadas para traçar o perfil das propriedades da água em locais específicos e coletar amostras em profundidades selecionadas. Sistemas contínuos, como perfiladores acústicos de corrente Doppler ou sistemas de fluxo contínuo, serão usados para monitorizar continuamente vários parâmetros ao longo dos trajetos do navio. Imagens de satélite serão utilizadas para identificar as assinaturas de superfície de feições de mesoescala e para decidir a posição para o lançamento de um veículo autónomo (waveglider) da GEOMAR. Este veículo ficará no mar durante os próximos meses, contribuindo para a monitorização das águas superficiais ao largo de Cabo Verde. Uma bóia de ondas Spotter será fundeada pelo Instituto Hidrográfico na costa sul da ilha de São Vicente e operada em conjunto por este instituto e o IMAR, proporcionando medições em tempo real das condições das ondas que afetam aquela costa.
O programa de trabalho a realizar em Cabo Verde é a expressão mais visível das ações cooperativas de observação nas áreas atlânticas que estão integradas na missão Mar Aberto e que se estenderão ao domínio oceânico global, de Portugal a Cabo Verde e daí a Angola e posteriormente a São Tomé e Príncipe. Em todo percurso do navio, drifters de superfície serão lançados como parte da colaboração do Instituto Hidrográfico com o E-SURFMAR e o Surface Drifter Program da NOAA (Estados Unidos). Um programa de identificação de áreas de alta concentração de sargaço e coleta de amostras para posterior análise laboratorial será realizado ao longo das trilhas como parte de uma colaboração entre o Instituto Hidrográfico e o Lamont Doherty Earth Observatory da Columbia University (Estados Unidos).
As amplas ações de colaboração a desenvolver durante esta missão constituem o núcleo de um caso de estudo de observação cooperativa no Atlântico que se desenvolverá no âmbito da All-Atlantic Marine Research Infrastructure Network (AA-MARINET), esforço apoiado pela All-Atlantic Ocean Research Alliance (AANChOR-CSA), um projeto europeu.